terça-feira, 29 de março de 2011

Um segredo...

A menina entrou no quarto, trancou a porta, apagou a luz e sentou no chão, num canto encostando-se à parede. Juntou as pequeninas mãos em forma de concha, trouxe para junto da boca e sussurrou: “eu amo você”.

Depois disso, ela fechou as mãos apertando-as, palma com palma, junto ao peito e ficou possuindo seu segredo por toda a noite. O coração pulava, querendo sair de dentro, pulava alto mesmo, tão alto que ela o sentia subir pela garganta, subir como um nó, como várias fisgadas ao mesmo tempo em torno da parte de dentro do pescoço; e os olhos se molhavam – parecia que tudo queria sair de dentro. Mas nada disso importava de fato. O coração, as lágrimas, as entranhas, tudo podia fugir menos o segredo – que também queria sair de dentro.

Então, ele começou a pular como o coração, a vibrar mudo como as cordas vocais em choro desesperado, e foi se chocando contra as linhas das palmas das mãos, aquelas onde se escreve o destino, era isso, o segredo ecoava entre as mãos como um desejo que se choca contra o próprio destino. E como um desejo que se choca contra o próprio destino, mudou as linhas de suas mãos de lugar, apagou o que estava errado, e se inscreveu nas novas linhas das mãos da menina.

Na manhã seguinte, devido a um descuido por estar desfalecida em sono, o segredo escapou pelos punhos e braços, caindo por entre os poros da pele na corrente sanguínea e, consequentemente, nas vias respiratórias, para, finalmente, através dos olhos, fugir daquele corpo que o aprisionava. E todos que olharam em seus olhos depois que ela acordou sentiram meio que de longe e sem lógica a sugestão de um sentimento estranho, que não sabiam denominar. Amaram-na sem saber, assim como ela os amou sem saber.

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