terça-feira, 15 de março de 2011

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Entrar na Academia já entrei
mas ninguém me explica por que que essa torneira
aberta
neste silêncio de noite
parece poesia jorrando…
Sou bugre mesmo
me explica mesmo
me ensina modos de gente
me ensina a acompanhar um enterro de cabeça baixa
me explica por que que um olhar de piedade
cravado na condição humana
não brilha mais que anúncio luminoso?
Qual, sou bugre mesmo
só sei pensar na hora ruim
na hora do azar que espanta até a ave da saudade
Sou bugre mesmo
me explica mesmo:
se eu não sei parar o sangue, que que adianta
não ser imbecil ou borboleta?
Me explica porque penso naqueles moleques
como nos peixes
que deixava escapar do anzol
com o queixo arrebentado?
Qual, antes melhor fechar essa torneira, bugre velho…
        Manoel de Barros

2 comentários:

  1. Depois de um começo de noite na companhia de queridos amigos que me lembraram de coisas tão óbvias que eu já tinha esquecido, mas tão fundamentais que tal esquecimento deixava um vazio enorme, não tive como não me emocionar mediante uma maneira tão simples de se levantarem questões "tridimensionais"

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  2. Me diz que valor há na companhia?
    O valor de nada, de não ter emergência de encher os copos, de não precisar se importar com as horas que o mundo dita e de não ser, além do estar sendo, alguma coisa.
    Foi uma noite linda, que apesar do estudo de filosofia, filosofamos bem mais com a companhia de com Manoel de barros. (:

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